Sobre partos

Tipos de parto: a importância da informação para a escolha

E você? Já escolheu que parto quer ter?  
por Marina Farkas Bitelman


A gestação é um momento único e especial na vida da mulher, quer ela tenha sido planejada, venha numa hora “não tão boa”, venha cheia de enjoos ou brancas nuvens. O corpo e a cabeça mudam, a perspectiva das coisas e as prioridades também. Este é um momento de maior abertura para o inconsciente vir à tona, segundo a psiquiatra e psicanalista francesa Monique Bydlowski. Para ela, eis um tempo em que temos a chance de olhar com maior nitidez para nossos medos, para os sentimentos e hábitos de que não nos orgulhamos, para o que nos incomoda e também para o que é realmente nosso desejo, no que ela chama de “Transparência Psíquica”.


Seria interessante termos tranquilidade para viver esta fase que já é cheia de emoções, mas a mulher grávida tem à sua disposição tanta informação e tantas escolhas a fazer, que parece que nove meses não são suficientes para se preparar. O que comprar para o quarto do bebê? Quantas roupinhas? Vou usar mamadeiras? Utensílios variados – carrinho, sling, shampoo, preparar ou não o seio para a amamentação… . São muitas as questões. Mas quais informações e decisões realmente importam?


Neste texto, vamos falar sobre algo muito importante: o parto. Em geral, não se fala muito em opções de parto, pois o que a mulher normalmente quer é poder confiar no/a seu/sua ginecologista da vida toda, com quem já tem algum grau de intimidade, e que normalmente diz que fará um parto normal, se este for o seu desejo. Porém, é importante considerar que um excelente ginecologista não é necessariamente um bom parteiro ou obstetra para parto normal/natural. No entanto, é preciso compreender que a mulher (a família) tem uma escolha a fazer, que diz respeito a seu parto, seu corpo e o nascimento de seu filho. Existem várias possibilidades para este momento, e a futura mãe precisa se informar bem e conhecer todas as opções e seus prós e contras para fazer esta escolha.


Atualmente, nas escolas de medicina brasileiras, os alunos não têm muitas ‘horas de voo’ em partos naturais; têm muito treino em realizar cesáreas, e ficam mais confiantes em realizá-las. Em alguns casos, podem pesar aspectos financeiros e de ordem prática, pois um parto natural pode levar muitas horas e uma cesárea dura uma hora, e, sendo assim, a cesárea agendada se enquadra muito melhor em um planejamento da agenda do médico, evita desmarcar muitas outras pacientes e costuma remunerar proporcionalmente mais do que um parto normal/natural.


Quais são os diferentes tipos de parto?


O parto natural é aquele sem intervenções médicas, como episiotomia, anestesia/analgesia, uso de ocitocina artificial entre outras.


O parto normal é aquele em que o bebê nasce por via vaginal, mas alguma(s) intervenção(ões) foi usada, por ser necessária ou por ser da prática do médico ou do hospital.


O parto humanizado é aquele em que a equipe de apoio ao parto – que pode contar com obstetra, obstetriz, doula, pediatra – apoia a mulher para que o nascimento aconteça com o mínimo possível de intervenções, com alívio dos desconfortos de maneira não medicamentosa, como o uso de massagens, posições que aliviam a dor, caminhada, em um ambiente acolhedor para o bebê, em que este vai direto para o colo da mãe e tem tempo para mamar, se quiser. O bebê não recebe desnecessariamente colírios, aspirações, esfregões, luzes fortes e não é separado da mãe nos primeiros minutos de vida. Uma equipe humanizada fará uma cesárea quando esta se fizer necessária para o bem estar do bebê e da mãe.


A Cesárea é uma cirurgia muito executada atualmente no Brasil por conveniência de médicos e pelo fato de muitas mulheres acreditarem ser ela muito segura. Desenvolvida para salvar a vida de mães e bebês quando algum risco se apresentava, hoje é realizada em taxas muito acima da recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Segundo o órgão internacional, 15% seria a taxa de nascimentos que precisam ser por cesárea por indicações médicas, sendo que nos hospitais privados brasileiros ela é realizada em mais de 80% dos casos. Sabe-se que há riscos em uma cesárea, como infecção hospitalar, complicações várias decorrentes de cirurgia, recuperação mais lenta no pós-parto, e estas complicações devem ser consideradas antes de se optar pelo procedimento.


Você pode saber mais sobre os tipos de parto e tomar sua decisão, com o apoio de muitas fontes, como sites, livros e documentos. Uma delas é o livro “Parto Normal ou Cesárea”, de Simone Grilo Diniz e Ana Cristina Duarte.


Se seu desejo é ter um parto normal ou natural humanizado, é importante, além de se informar, conversar sobre seus desejos com o seu companheiro; se preparar para o trabalho de parto e parto, conhecendo um pouco suas fases, escolher um/a obstetra e um/a pediatra humanizados que apoiem suas escolhas, pensar e conversar com esta equipe sobre o que espera do parto, e, assim, poder chegar ao momento do nascimento de seu bebê entregando-se para o processo; escolher uma doula para te apoiar no trabalho de parto e parto; se informar sobre as reais indicações para se fazer uma cesárea, participar de um grupo de gestantes, como os que acontecem no Alegrias de Quintal, ir às atividades do Gama e da Casa Moara, em São Paulo, ou procurar atividades para gestantes em sua cidade.


Se você quer saber se seu/sua obstetra faria um parto natural/normal, o site das Amigas do Parto tem um teste interessante. Se você não tiver coragem de perguntar diretamente para o médico, converse com outras mães recentes na sala de espera para saber sua experiência ou pergunte para a secretária se o médico costuma desmarcar pacientes por conta de partos. Se não desmarca, é grande a chance de ele ter as cesáreas agendadas ou incentivadas como prática.


O medo incorporado


Um dos motivos que leva as mulheres a abdicar da informação, a desconhecer o processo de gravidez e do parto e a se entregar nas mãos de um médico é o medo de parir e a falta de conhecimento e confiança no próprio corpo. Este medo também é construído culturalmente, socialmente e é incorporado, ou seja, fica no corpo, impregnado. E a mulher não acredita ser capaz. Acredita mais na tecnologia, na ciência e no médico, e se esquece de fortalecer a intuição, o auto-conhecimento. No entanto, as  mulheres são capazes de dar à luz seu filho. O parto é um evento fisiológico, salvo raras, raríssimas exceções, quando requer intervenções médicas.


Por conta da vida moderna e da falta de contato com a própria intuição, com o próprio corpo, e por não buscarem o auto-conhecimento, as mulheres terminam sendo conduzidas a tomar decisões por medo e apreensão. No entanto, entrando em contato consigo mesmas, com sua intuição e com o próprio corpo, as mulheres podem conhecer melhor os próprios medos e angústias, e se preparar para parir naturalmente.


Segundo o obstetra francês e defensor do parto natural Michel Odent, para que o trabalho de parto e o parto ocorram da melhor forma possível, para que o corpo da mulher ‘funcione’ de maneira a trazer um bebê à vida naturalmente, a mulher precisa  estar em um ambiente em que se sinta segura, confortável, à vontade, com o mínimo de luz possível, que não se sinta observada, julgada, e que não tenha que conversar, falar, tomar decisões – já que ativar o neocórtex libera adrenalina, que é um hormônio oposto e que inibe a ocitocina, hormônio que precisa ser liberado neste momento. Assista Michel Odent falando sobre isso, em inglês, nos vídeos On Gentle Birth 1-3; 2-3 e 3-3.


Um grande desafio, portanto, é criar as condições ideais caso a escolha seja fazer o parto em um hospital. Várias maternidades têm feito um grande esforço para oferecer um ambiente mais próximo do de casa, criando as salas LDR (Labor and Delivery Room), o que pode ajudar bastante. Há também as casas de parto, ambientes que contam com enfermeiras, obstetrizes e doulas e que, se necessário, transferem a parturiente para um hospital próximo. E há também o parto em casa.


Quem sabe mais sobre a mulher? O médico ou ela mesma?


Em nossa sociedade, a relação médico-paciente é em geral uma relação hierárquica, em que o médico sabe mais e diz o que a pessoa deve fazer. Os pacientes tendemos a entregar nossa saúde para o médico cuidar, quando o certo seria consultarmos o médico para que este nos ajude a cuidar de nossa saúde. É muito comum a gestante de primeiro filho não pensar no parto, até que este aconteça, e vemos muitas mulheres na 2ª ou 3ª gestação desconfiando que existe um outro tipo de experiência possível. Neste sentido, um livro que apóia a mulher que quer se apropriar mais de sua gestação e do nascimento de seu filho é o Parto Ativo, de Janet Belaskas.. Segundo o pediatra e psicanalista D. W. Winnicott, a mãe é quem melhor entende seu bebê e suas necessidades, e qualquer especialista pode tentar ajudar esta dupla, mas jamais terá a intimidade e a proximidade que permitem conhecer a personalidade, as preferências de cada bebê, como a sua mãe e o seu pai podem ter.


O parto é um evento fisiológico que muitas vezes sequer precisaria da presença de um médico. Como diz Ina May Gaskin, parteira norte-americana, quanto menos a mulher for perturbada, e quanto mais as pessoas que a atenderem estiverem elas mesmas tranquilas, melhor. Para conhecer um pouco sobre a parteira norte-americana Ina May Gaskin, assista este vídeo, em inglês, em que ela fala das condições desejáveis para o ambiente e a equipe do trabalho de parto e parto.


Por ser tudo muito novo para a gestante que vai ter o primeiro filho, pelo medo que ela sente deste evento nunca antes vivido, e pelo sistema de saúde no Brasil estar organizado assim, o parto reproduz esta relação hierárquica, e não raro as mulheres comentam que tal médico “fez” o meu parto, quando o ideal seria termos médicos “presentes” em nossos partos, “assistindo” nossos partos.


A importância de se refletir sobre o tipo de parto, o local de parto, que equipe assistirá o parto, deve-se ao fato de que este é um evento único, especial, assim como cada filho que temos. Não existe um “tipo certo” de parto, pois cada mulher tem a sua história, seus desejos, e acontecem eventualidades que fazem os planos mudarem. Nós não temos controle sobre o que acontece em nossas vidas, mas nos apropriarmos de nossa experiência e fazermos nossas escolhas de maneira consciente, de acordo com o que acreditamos e queremos para nós e nossos filhos é uma maneira de viver mais plenamente a experiência da maternidade.


Se faltar uma roupinha, se o berço não chegar a tempo, este tipo de coisa se ajeita, porém sofrer algum desrespeito ou violência, ser tratada de forma pouco digna durante o trabalho de parto, ter seu bebê aspirado, esfregado e agredido por conta de protocolos hospitalares deixa marcas muito profundas.


E você, gestante, como quer que seja sua experiência de parto?



Se você parou para se perguntar isso, já está num bom caminho. Então, comece a pesquisa, informe-se e procure grupos de apoio e informação que possam orientar a sua tomada de decisão. O corpo é seu. O parto é seu. A escolha é sua.

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